domingo, 14 de abril de 2013

O desenvolvimentismo tecnicista e a popularidade do Governo Dilma

O desenvolvimentismo tecnicista atingiu o auge de popularidade. Alimentado pelas migalhas de uma política social de eficácia lenta ,o governo Dilma alimenta a mesa dos bancários e empresários, que multiplicam impérios e promovem o avanço do grande Capital. A esse jogo ousou-se chamar de 'novo contrato social', outros preferem a alcunha de 'capitalismo social-democrata'.

A retórica do 'crescimento' e do 'desenvolvimento' formam a base mito-ideológica de uma governamentalidade que, na prática, segue à risca a agenda neoliberal, com pequenos traços tupiniquins. De um lado a crença no crescimento sem limites,do outro a aplicação tecnicista de uma economia política voltada para a fabricação e multiplicação de 'consumidores', traduzindo cidadania enquanto um mero acesso ao 'mercado'.

Produzem-se, assim, novos níveis de consumo econômico (das classes 'c', 'd', etc.), ampliando o alcance das garras do grande capital. A inclusão social tornou-se, de fato, uma mera 'inclusão econômica'. As pessoas são motivadas pela grande mídia e pelos agentes governamentais a avaliar a sua qualidade de vida conforme o grau de acesso aos bens de consumo 'modernos'. A vida se transformou num grande "Big Brother", onde a competição, o investimento pessoal no 'capital humano e informacional', a lógica da eficiência técnica e econômica, a luta pela sobrevivência no mundo selvagem do capitalismo, tornou-se o único valor moral. Tudo vale apena, desde que vire 'renda'. Todos os sonhos e desejos são possíveis e realizáveis, desde que possuam um preço. Todas as qualidades podem virar um poderoso e atrativo fetiche nas mãos do grande irmão.

Em nome do acesso às novas tecnologias - que se multiplicam diariamente - tudo é válido. A regra do utilitarismo humano e tecnológico predomina em todos os setores.

"Corra! Você também pode se aprimorar, faça um curso de especialização técnica, invista no seu currículo, torne-se uma pessoa útil".

A regra da 'utilidade' como único critério de seleção de pessoas, valores e ideias predomina na infra-estrutura e na super-estrutura, fazendo com que as engrenagens do Grande Capital funcionem à todo vapor. A nossa sociedade é uma flecha progressiva, ou você se "moderniza" ou se torna 'arcaico'. Não sabemos muito bem para onde vamos - neste campo predominam controvérsias intermináveis - mas é certo que 'vamos com intensidade', rumamos em alta velocidade, colocando todas as 'resistências' abaixo, varrendo o caminho com máquinas, tratores e homens.      

Enquanto os índices de popularidade da presidenta Dilma aumentam, os serviços públicos de saúde e segurança pública continuam péssimos. A infra-estrutura das grandes cidades está em crise. A reforma agrária anda estagnada há anos. Os movimentos sociais estão em alerta. Nada vai bem no campo ou na cidade, os recursos públicos são desviados e até mesmo os investimentos na recuperação de áreas atingidas por eventos naturais não têm sua execução fiscalizada. Veja a realidade cotidiana das nossas escolas, universidades e hospitais.

Mas, não se preocupe, a lógica utilitária prescreve a solução para todos os nossos problemas: se a economia vai bem, a sociedade vai bem, obrigado. Neste contexto totalitário, toda crítica social é percebida  como 'conservadora': ora, o Brasil está crescendo, qual é o problema? Se você não quer avançar na mesma intensidade, vai acabar ficando pra trás... Só existe um único caminho, o caminho do 'progresso' e do 'desenvolvimento', o Brasil ainda há de se tornar uma "Nova Iorque Tropical". Para crescer precisamos de energia e se o preço a pagar por isso é a extinção de algumas centenas de índios e ribeirinhos e o extermínio de um patrimônio arqueológico, cultural e ambiental inestimável, que mal há nisso?    

Ao mesmo tempo que assistimos "ao vivo" a decadência da qualidade de vida nas grandes metrópoles - marcada pelo péssimo trânsito, os altos índices de criminalidade, as constantes tragédias ambientais e a poluição sonora e do ar -  a retórica modernizante promove a assimetria ideológica entre a cidade e a roça, enaltecendo o meio de vida urbano e depreciando o modo de vida rural, operação mitológica cuja expressão literária maior é o nosso já conhecido "Jeca Tatu". O nosso caminho foi delineado de forma a promover exatamente o modo de vida que está em 'crise', demonstrando-se insustentável em médio e longo prazo.

Mas o debate e a discussão de ideias não é bem vinda no contexto do "Grande Partido". Não importa a qualidade ou conteúdo dos argumentos críticos, nada se contrapõe à justificativa eleitoreira de uma 'popularidade' alimentada por uma economia política que sabe muito bem dar as batatas aos vencedores.

Esquece-se, com isso, que a história da humanidade demonstra claramente que a 'popularidade' nunca foi um critério de 'justiça', qualidade 'ética' ou até mesmo 'intelectual' das ideias, planos econômicos ou de governo. Afinal, fenômenos políticos totalitários como o "nazismo", o 'fascismo", a 'intolerância religiosa ou ideológica", a homofobia, a 'ditadura militar' e outros governos de exceção - guardadas as devidas diferenças - foram sustentados pela produção de dados estatísticos favoráveis, marketing político e altos índices de aprovação junto à população em geral.

O fato é que toda forma de totalitarismo - até mesmo os mais 'populares' - são atentados contra a liberdade e a criatividade humana.

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