quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O Pensamento Selvagem - Lévi-Strauss

"Como nas linguagens profissionais, a proliferação conceitual corresponde a uma atenção mais firme em relação às propriedades do real, a um interesse mais disperto para as distinções que aí possam ser introduzidas. Essa ânsia de conhecimento objetivo constitui um dos aspectos mais negligenciados do pensamento daqueles que chamamos 'primitivos'. Se ele é raramente dirigido para realidades do mesmo nível daquelas às quais a ciência moderna está ligada, implica diligência intelectuais e métodos de observação semelhantes. Nos dois casos, o universo é objeto de pensamento. (...) A extrema familiaridade com o meio biológico, a atenção apaixonada que lhe dedicam, os conhecimentos exatos ligados a ele freqüentemente impressionam os pesquisadores como indicadores de atitudes que diferenciam os indígenas de seus visitantes brancos. (...) De tais exemplos, que se poderiam retirar de todas as regiões do mundo, concluir-se-ia, de bom grado, que as espécies animais e vegetais não são conhecidas por que são úteis; elas são consideradas úteis ou interessantes porque são primeiro conhecidas. Pode-se objetar que uma tal ciência não deve absolutamente ser eficaz no plano prático. Mas, justamente, seu objetivo primeiro não é de ordem prática. Ela antes corresponde a exigências intelectuais ao invés de satisfazer às necessidades. (...) Ora, essa exigência de ordem constitui a base do pensamento que denominamos de primitivo, mas unicamente pelo fato de que constitui a base de todo pensamento, pois é sob o ângulo das propriedades comuns que chegamos mais facilmente às formas de pensamentos que no parecem muito estranhas".

Lévi-Strauss - O Pensamento Selvagem

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