quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sobre o Conflito no Egito

Os Estados Unidos já entraram em muitas guerras em nome da “democracia” e da “liberdade de expressão”. Eles se apresentam ao mundo como guardiães dos valores liberais e enchem a boca para apontar o arbítrio de ditaduras inimigas vigentes em países como Coréia do Sul, o ex-Iraque e a pequena ilha de Cuba.

Mas nem todos os ditadores são mal vistos. Afinal, conforme uma frase de um conhecido general norte-americano: “os nossos ditadores são sempre bem vindos no Pentágono”. Sim, “os ditadores” apadrinhados pelo “Tio Sam” podem tudo: matar, desrespeitar os direitos humanos, desenvolver bombas atômicas e manter um povo inteiro submetido ao terrorismo de Estado. Quando o assunto é “os nossos ditadores”, tudo é válido: roubar, matar, passar por cima dos direitos civis... A lista de “liberdades” que o governo dos Estados-Unidos concede aos seus ditadores pode ser infinita.

Já os “outros ditadores” – o chamado “eixo do mal” - esses devem ser perseguidos em nome da “democracia”. Mas não qualquer democracia: é preciso criar a opinião pública. Se os democratas forem muçulmanos, por exemplo, bem... Talvez a democracia não seja um bom negócio mesmo.

Em um artigo publicado por um jornalista norte-americano, ele comentava que o governo do seu país estava “indeciso”, pois não sabia se apoiava o seu colega ditador ou exigia do mesmo uma guinada em direção à democracia. Mas, como tudo na vida, havia um “porém”... O “problema” é que os únicos partidos políticos organizados existentes no Egito são muçulmanos... Bem, então, vejamos... Conclusão do renomado jornalista: é preciso criar um partido “realmente” democrata e conduzi-lo ao poder. Ironia do destino: será possível falar em democracia quando essa democracia é uma imposição? Mais grave ainda, será que a democracia pode ser forjada pelo governo de outro país? Será que a “vontade popular” pode ser fabricada? Afinal, se o governo é do povo, não caberia ao povo egípcio decidir qual partido político deve assumir o poder?

Da mesma forma, ditaduras sul-americanas foram apoiadas durante os anos de Guerra-Fria: Argentina, Brasil e Chile são exemplos históricos que não podem ser negligenciados. Durante os anos de chumbo, governos eleitos popularmente eram combatidos, enquanto ditadores fascistas eram mantidos no poder. Afinal, é de conhecimento público onde estava o porta-aviões da armada Ianque quando Jango e Brizola fugiram do país pela porta dos fundos. Nessa época, a democracia não era bem vinda! Não! Sob essas circunstâncias, era melhor manter ditaduras “amigas” do que arriscar dar voz ao povo.

Ao ver os egípcios nas ruas, lutando por liberdade e justiça social, lembrei dessas ironias da história e fiquei tentando imaginar qual seria a atitude de Obama caso ainda vivêssemos sob o clima mais do que pesado da guerra-fria. Acho que os seus soldadinhos de chumbo seriam mobilizados e o exército esmagaria com violência a tal democracia que eles tanto defendem.

Mesmo diante de um contexto bastante diferenciado, a hipocrisia norte-americana continua ativa. Onde estão os valores democráticos? Por que todo esse silêncio e esse marasmo? As declarações são sempre evasivas, reflexo de uma “indecisão” estratégica. Afinal, todos sabem que o “ditador”, neste caso, era amigo íntimo do Pentágono. Seus militares freqüentavam os cursos norte-americanos, tomavam cafezinho com seus colegas de farda. Enquanto isso... No Egito, o povo sofria com as maiores injustiças. Mas o que importa? Para os generais norte-americanos a democracia é uma palavra vazia mobilizada em momentos estratégicos, seja contra ou a favor do povo.

Só espero que os egípcios possam viver sua própria democracia e não uma democracia imposta pelo olhar vigilante do velho “Big Brother”!

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