segunda-feira, 13 de abril de 2009

Interação entre o conhecimento científico e indígena no Rio Negro, AM

“Um trabalho importante que fazemos na OIBI é acompanhar pesquisadores. Nós temos um projeto de vendas de cestaria de arumã, ‘Arte Baniwa’, que teve a colaboração de alguns pesquisadores e há seis anos eu comecei a acompanhar o trabalho deles. Eu não entendia bem o pesquisador, mas comecei entender um pouco essa atividade a partir dali. A pesquisa é muito importante para todos os trabalhos que nós fazemos hoje, porque mesmo a gente tendo muito conhecimento, precisa da visão do outro lado para fazer um trabalho que possa se desenvolver sem risco de acabar com a matéria-prima ou impactar bastante a vida das nossas comunidades. Os pesquisadores trabalham de forma bem diferente da nossa. Depois que eles fazem a pesquisa, eles falam se uma atividade é sustentável ou não. Atualmente, trabalho no projeto Paisagens Baniwa, pesquisando uma determinada região do rio Içana. Onde as pesquisas se desenvolvem mais intensamente, trabalhando em conjunto os conhecimentos indígenas e científicos, tem sido possível fazer reflexões que podem trazer uma nova forma de desenvolver e trabalhar nossas comunidades. Todo esse trabalho que fazemos na OIBI ocorre pelo nosso próprio esforço. Na escola Pamáali fazemos ensino via pesquisa e, nos próximos anos, formaremos 20 pesquisadores indígenas, que poderão dar continuidade a esse trabalho na região. Hoje, a gente escuta muito o pessoal da cidade se preocupando com as mudanças climáticas. Mas parece que não estão percebendo que tudo isso é conseqüência da própria ação deles. É importante pensarmos como melhorar isso a partir de hoje, para garantirmos o prolongamento da nossa vida na Terra. Essa mudança climática já está afetando as nossas comunidades. Por exemplo, a época da chuva não está mais de acordo com o nosso calendário tradicional. O florescimento da floresta também está sendo em outra época e essa mudança do ciclo, do movimento da natureza, acaba atrapalhando a vida e o planejamento das comunidades. Nesse mês de março é que floresceu a maioria das plantas do mato, enquanto no calendário original , seria no mês de agosto a setembro. Então, há uma mudança muito grande ocorrendo e não sabemos exatamente o que vai ocorrer no futuro. Nós gostaríamos de saber dos cientistas quais soluções eles têm, diante dessa grave situação que o planeta passa atualmente. Eles têm algumas propostas para a gente continuar trabalhando e saber que o futuro vai existir? Isso seria bom a gente ouvir”.

Armindo Feliciano Miguel Brazão
Depoimento proferido no Seminário Visões do Rio Babel, realizado pelo Instituto Socioambiental (ISA), em Manaus, entre 22 e 25 de maio de 2007

Fonte: ISA. 2008. Visões do Rio Negro: construindo uma rede socioambiental na maior bacia de águas pretas do mundo (p. 33). São Paulo: Instituto Socioambiental.

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